É início de Outubro e recebo notícias de que em Itambacuri, cidade situada no Vale do Rio Doce em Minas Gerais, terra onde nasceu meu pai e onde passei boa parte da minha infância está passando por um racionamento de água em razão de uma crise hídrica que começou em meados de 2015.
Itambacuri infelizmente não é um caso isolado. O racionamento de água já é realidade em 25 cidades mineiras atendidas pela Copasa¹. No país, até Julho deste ano, 176 cidades tiveram a situação de emergência reconhecida pela União em função da seca, 151 em Minas Gerais e 25 no Piauí².
Neste contexto de mudanças climáticas e esgotamento dos recursos hídricos a conservação da água em edificações torna-se cada vez mais importante. Como conservação entenda-se o combate ao desperdício da água nas atividades cotidianas através da mudança de hábitos e emprego de tecnologias economizadoras nas instalações sanitárias e o reuso ou aproveitamento de águas menos nobres para o uso em atividades que não requeiram alto grau de potabilidade da água.
Uma das fontes de água mais comuns e de fácil acesso à população vem da precipitação de chuvas.
Atualmente a captação de águas pluviais tem adquirido crescente importância nos sistemas de distribuição de água como forma de reduzir a demanda por água potável.
Atualmente a captação de águas pluviais tem adquirido crescente importância nos sistemas de distribuição de água como forma de reduzir a demanda por água potável.
Esquema básico de captação de águas pluviais
As normas brasileiras estabelecem que o sistema de drenagem pluvial deva ser separado do sistema de esgoto sanitário, ou seja, é necessária uma rede exclusiva para este fim. Este modelo, conhecido como “separador absoluto” (que tem como principal objetivo reduzir os custos no transporte e destinação final dos rejeitos nas redes públicas) favorece o aproveitamento das águas de chuvas, uma vez que não se faz necessário efetuar um tratamento desta água, mas apenas um processo de filtragem simplificado para separar as sujeiras que geralmente são carreadas pelo efluente.
A norma brasileira que trata e dá diretrizes ao aproveitamento de águas pluviais é a NBR 15527 – Água de Chuva – Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis – Requisitos. Esta norma estabelece os parâmetros de qualidade da água para usos restritivos não potáveis, mas ressalva que a opção pela desinfecção fica a cargo do projetista.
O mais comum é que caso esta água não for usada para fins potáveis como beber, cozinhar ou tomar banho, a desinfecção pode ser dispensada.
Isto não dispensa, no entanto, a necessidade de controle da qualidade da água armazenada como será visto adiante.
Qualquer que seja o tamanho do sistema ele será composto por basicamente quatro etapas: captação, filtragem, armazenamento e distribuição.
Mini Cisterna: modelo simplificado para captação de água de chuva.
Ideal para pequenas residências.
As águas das chuvas são captadas através das calhas, passam por um filtro que retém as impurezas, são armazenadas em cisternas, barris, baldes ou qualquer outro tipo de recipiente que possa mantê-la protegida e são distribuídas através de tubulações ou manualmente.
Independente do modelo adotado é necessário que a primeira água de chuva seja descartada, pois acarreta todo tipo de sujeira acumulada nos telhados. A NBR 15527 recomenda que 2 mm (2 litros) de chuva por metro quadrado de cobertura deve ser descartado antes da coleta efetiva da água. Isto significa dizer que para um telhado de 100 m², devem ser descartados os primeiros 200 litros.
As águas provenientes das chuvas não são potáveis e, portanto deve ser criada uma rede de distribuição exclusiva que não deve ser misturada à rede de água potável.
Alguns equipamentos oferecidos no mercado prometem a total desinfecção da água coletada entregando-a em grau de potabilidade próprio para consumo. Nestes casos o investimento inicial é maior e o controle da qualidade da água é de responsabilidade do usuário.
Sistema completo de aproveitamento de águas pluviais com uso de cisterna e pressurizador na distribuição.
As instalações para captação de águas pluviais podem ser bastante simplificadas, totalmente manuais como no caso de mini-cisternas, ou totalmente automatizadas, sem necessidade de intervenção dos usuários. Nos modelos automatizados, em épocas de estiagem o reservatório de águas pluviais é alimentado por água potável proveniente da rede pública.
Filtro residencial para coleta de águas pluviais (3)
Em casos de edificações altas ou de reservatórios subterrâneos é necessária a inclusão de uma estação elevatória para fazer o bombeamento da água captada para o reservatório superior ou de um pressurizador para alimentar diretamente os pontos de consumo.
O mercado brasileiro tem apresentado cada vez mais opções em equipamentos para captação de águas pluviais, mas também é possível encontrar na internet soluções caseiras para filtros e cisternas.
Filtro para coleta e tratamento de águas pluviais (4)
Filtro de água de chuva de baixo custo (5)
Seja qual for a solução adotada, alguns cuidados devem ser observados:
• O reservatório de águas pluviais deve ficar lacrado, enterrado ou protegido contra a incidência direta de luz solar.
• Deve ser limpo anualmente com o esgotamento total de seu conteúdo.
• Ele deve ficar afastado de qualquer perigo de contaminação como fossas e latrinas.
• Deve ser feito de material que não solte substância na água.
• Os pontos de consumo de água de chuva devem estar identificados com os dizeres “água não potável”.
• Deve ser feita uma verificação visual periódica da água do tanque para aferir aspectos de turbidez e cor e presença de folhas.
• Todo o sistema deve receber limpeza periódica conforme se segue:
• Deve ser limpo anualmente com o esgotamento total de seu conteúdo.
• Ele deve ficar afastado de qualquer perigo de contaminação como fossas e latrinas.
• Deve ser feito de material que não solte substância na água.
• Os pontos de consumo de água de chuva devem estar identificados com os dizeres “água não potável”.
• Deve ser feita uma verificação visual periódica da água do tanque para aferir aspectos de turbidez e cor e presença de folhas.
• Todo o sistema deve receber limpeza periódica conforme se segue:
A coleta de águas pluviais visa diminuir a demanda por água potável e pode gerar, por consequência, economia nas tarifas pagas às concessionárias públicas.
No entanto, mais importante que diminuir a conta de água é a preservação dos recursos hídricos.
Da próxima vez que for projetar ou construir pense com carinho numa solução de coleta de águas pluviais.
O bolso agradece e o nosso planeta também.
Em breve falaremos sobre o reuso de águas servidas. Até lá!
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Leia também:
Fonte:
1.Situação de emergência é decretadaem 176 cidades
2.Racionamento de água e realidade em 25 cidades atendidas pela Copasa
3.Filtro volumétrico VF1 da 3P Technik
4.Filtro residencial da Chove Chuva
5.Filtro auto limpante de baixo custo para água de chuva
1.Situação de emergência é decretadaem 176 cidades
2.Racionamento de água e realidade em 25 cidades atendidas pela Copasa
3.Filtro volumétrico VF1 da 3P Technik
4.Filtro residencial da Chove Chuva
5.Filtro auto limpante de baixo custo para água de chuva
Referências bibliográficas:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 15527: Aproveitamento de água de chuva em áreas urbanas para fins não potáveis. Rio de Janeiro, 2007. 12 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 10844: Instalações prediais de águas pluviais. Rio de Janeiro, 1989. 13 p.
CARVALHO JUNIOR, Roberto de. Instalações hidráulicas e o projeto de arquitetura – 4ª ed. Revista e ampliada, São Paulo: Blusher, 2011.
GNIPPER, Sérgio Frederico. Uso racional da água nas edificações. In: PROGRAMA DE TREINAMENTOS ABRASIP-MG GESTÃO 2014-2015 – USO RACIONAL DA ÁGUA NAS EDIFICAÇÕES E MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA DE CONSUMO. Curitiba, Março, 2015. Apostila.
FIEMG. Aproveitamento de água pluvial - conceitos e informações gerais. Cartilha. 42p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 10844: Instalações prediais de águas pluviais. Rio de Janeiro, 1989. 13 p.
CARVALHO JUNIOR, Roberto de. Instalações hidráulicas e o projeto de arquitetura – 4ª ed. Revista e ampliada, São Paulo: Blusher, 2011.
GNIPPER, Sérgio Frederico. Uso racional da água nas edificações. In: PROGRAMA DE TREINAMENTOS ABRASIP-MG GESTÃO 2014-2015 – USO RACIONAL DA ÁGUA NAS EDIFICAÇÕES E MEDIÇÃO INDIVIDUALIZADA DE CONSUMO. Curitiba, Março, 2015. Apostila.
FIEMG. Aproveitamento de água pluvial - conceitos e informações gerais. Cartilha. 42p.
Texto produzido por:
Dalmir José de Magalhães Junior
Também chamado de “Mestre” pelos amigos (O Jedi, não o anão) é Arquiteto e Urbanista formado pelas Faculdades Integradas Izabela Hendrix e trabalha há 19 anos com projetos de arquitetura e instalações hidrossanitárias prediais.
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