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Arquitetura de luto

Elyzia Rodrigues | 1.4.16 | | | | |
“Sim, sou feminista porque acho todas as mulheres inteligentes, talentosas e duras. Acredito na habilidade feminina; e no poder e na independência femininas. Antes eu não gostava que me chamassem de arquiteta mulher. O importante é que sou arquiteta, o fato de ser mulher é uma informação secundária. Mas talvez isso tenha ajudado outras mulheres, inspirando-as a escolher uma profissão e fazer algo a respeito, especialmente em um campo considerado não apto para mulheres.”



Zaha Hadid (Bagdá, 31/10/1950), que morreu ontem em Miami aos 65 anos, fez história antes de começar a construir. Era internacionalmente famosa por seus desenhos neoconstrutivistas quando Rolf Fehlbaum, o proprietário da empresa alemã de móveis Vitra, deu a oportunidade para que construísse seu primeiro edifício: a estação de bombeiros de sua fábrica. O ano era 1994. Uma década depois, recebeu o Prêmio Pritzker (2004) e com ele começava uma das carreiras mais bem sucedidas da profissão. A mais notável de uma mulher. Começava, assim, a tripla corrida de obstáculos de tentar construir um ideário, fazer isso sendo mulher e tentar construir edifícios emblemáticos em seu país de adoção, o Reino Unido.

Não foi fácil. Zaha Hadid chegou a ganhar concursos, como a Ópera de Cardiff no País de Gales, que terminaram sendo pedidos a Norman Foster. Soube resistir. Tornou-se uma excelente designer capaz de aplicar seu talento a joias, móveis, sapatos, bolsas, barcos e as roupas que vestia.


Foto: Floor Nature
Heydar Aliyev Center  - Baku - Azerbaijão

Quando abriu seu Centro de Arte em 2003, em Cincinnati (Ohio) – seu primeiro projeto norte-americano – o mundo da arquitetura observou de perto como tinha sido a transformação dos planos da inovadora arquiteta do papel para as três dimensões da realidade. Saiu vitoriosa do julgamento, mas entendeu que as exigências com ela seriam maiores e decidiu arriscar mais. “Tentando quebrar os limites da arquitetura” falava de converter os edifícios em paisagem e repensar os limites físicos das construções. Fez isso com o MAXXI de Roma em 2010 e com a Ópera de Guangzhou no mesmo ano. Naquela época, concluiu uma de suas obras mais comoventes, o colégio Evelyn Grace em Brixton, um lugar onde os estudantes com um futuro pouco promissor estudam em um dos melhores prédios da capital britânica.

Em Baku (Azerbaijão), Hadid e sua equipe construíram o centro cultural Heydar Aliyev, que abriu uma via de vanguarda para a transformação da cidade – ao mesmo tempo que a associou à dinastia vitalícia que detém o poder. Após assinar o Centro Aquático para as Olimpíadas de Londres (2012) e deixar uma versão sóbria da sua marca artística em sua cidade, Hadid foi chamada para trabalhar em Oxford, onde construiu um edifício no St. Anthony’s College. Tinha nas mãos a renovação da frente marítima de Istambul e o projeto de um estádio para Catar 2022. Uma torre em Moscou e uma ponte em Taiwan. Se durante anos seu campo de atuação foram os museus – sua obra não construída era valorizada por sua contribuição artística – nas últimas décadas ela parecia querer reinventar o mundo. Seu estúdio só crescia, a ponto de mudar para os escritórios do antigo Museu do Design, ao lado do Tâmisa, onde gerenciava projetos em todos os continentes do mundo.

No Brasil, a arquiteta foi colaboradora por vários anos da Melissa, marca de sapatos de plástico da Grendene, que começou um processo de internacionalização em 2005 – quando passou a convidar nomes de peso do design para desenhar seus modelos.

Fonte:
Matéria publicada no jornal El País
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