Quando se fala em elementos arquitetônicos da Arquitetura Brasileira o cobogó é um o primeiro dos elementos que me vêm á mente.
Foto: au.pini
Pedregulho - Rio de Janeiro - 1947 - Arquiteto: Affonso Eduardo Reidy
Só depois vou me lembrar dos tijolos de vidro, brise-soleil, construção sobre pilotis, linhas retas, uso de concreto aparente, azulejos.
Quando era criança adorava ir ao Mercado Novo aqui em Belo Horizonte com minha mãe, pois via as pessoas na rua, mas ninguém da rua me via.
Foto: Guilherme Cunha
Mercado Novo - BH
Lembro que sempre ventava mais na fachada da Avenida Olegário Maciel, além disso, o chão sempre tinha um desenho diferente dependendo da hora que a gente ia lá...
Pois a cada hora do dia o sol fazia uma sombra diferente depois de passar pelo cobogó.
HISTÓRICO
Muita gente desconhece, mas o cobogó é tido como um produto 100% brasileiro.
No ano de 1929 em Pernambuco na cidade de Recife, dentro de uma fábrica de tijolos, o mestre de obras Amadeu de Oliveira Coimbra, o ferreiro alemão Ernest August Boeckmann e o engenheiro Antônio Góis se mobilizaram com o intuito de criar um recurso arquitetônico que fosse capaz de minimizar as altas temperaturas da região Nordeste.
Esse elemento foi concebido a partir do mesmo princípio das treliças e muxarabis de madeira utilizados nas casas da Arquitetura Colonial Brasileira, ou seja, um elemento vazado que permite a passagem de luminosidade e ventilação e garante a privacidade interna em relação ao exterior.
Foto: Vitor Hugo Mori - Vitruvius
Diamantina - MG
O nome cobogó foi dado a partir das iniciais dos nomes de cada um de seus inventores, Coimbra, Boeckman e Góis. Por ser de estrutura modular facilitava na fabricação em série o que já estava se tornando uma necessidade da época.
A primeira obra pública que utilizou o cobogó como recurso foi a Caixa D’Água Alto da Sé em Olinda no ano de 1934, obra do arquiteto carioca Luiz Nunes.
Foto: Vitruvius
Caixa Dágua - Olinda - Pernambuco - 1934
Arquiteto: Luiz Nunes
O cobogó inicialmente foi fabricado em concreto, depois em cerâmica.
Seu uso é bastante comum em construções mais populares decorando muros e fachadas ou dividindo espaços, fazendo assim parte da identidade do modo de habitar do brasileiro.
Foi muito difundido em todo o Brasil, no período modernista, entre as décadas de 1940 e 1960, principalmente nas fachadas posteriores dos edifícios, para ventilação de áreas de serviços, com isso muita gente passou a fazer uma associação dos cobogós com o que é pejorativo ou menor e ele ficou desaparecido das grandes obras por um longo período.
O que é extremamente injusto!
Foto: John Hartmann
Parque Eduardo Guinle - Rio de Janeiro - 1948
Arquiteto: Lúcio Costa
CARACTERÍSTICAS
O cobogó é um elemento pré-fabricado que possui grande durabilidade, qualidades ambientais, potencial plástico e baixo custo.
Foto: Cimenta
Possibilita a entrada de luminosidade e ventilação, ou seja, permite o controle da incidência de sol e vento no interior das edificações, minimizando muitas vezes o uso de iluminação elétrica e condicionamento de ar.
Foto: Coby
Possibilita a visualização de dentro para fora e não o contrário, isso é ideal para quem quer privacidade. Grandes fachadas envidraçadas nem sempre são a melhor solução para os edifícios, o uso de cobogós muitas vezes poderá dispensar o uso de cortinas, painéis ou persianas.
Foto: Blog Doux Houz
Embora se fale pouco a respeito, o cobogó é um elemento arquitetônico altamente sustentável, pois uma vez instalado não necessitará de manutenções complicadas, trocas ou reparos.
Foto: Manufatti Revestimentos
O cobogó é um produto que hoje já pode ser encontrado em vários materiais além do cimento e da cerâmica e em diversas cores, dimensões, formas e desenhos.
Há hoje no mercado cobogós de louça, madeira, mármore, granito, alumínio, aço e cimentícios.
Foto: Revista Iniciação
Pavilhão Rendado - Brasília - 2008 Arquitetura; Domo Arquitetura
O preço de uma peça vai variar de acordo com o material e as dimensões que escolher.
O cobogó com modelo mais simples de cerâmica pode ser encontrado entre R$3,00* e R$4,00* a unidade e uma peça de louça por volta de R$40,00*.
*Estes valores são referentes á data desta postagem.
INSTALAÇÃO
A instalação dos cobogós é bastante simples, muito parecida com a instalação dos tijolos de vidro.
- Antes de iniciar é muito importante verificar se o piso onde serão apoiadas as peças está nivelado, caso contrário é necessário fazer seu nivelamento antes;
Foto: Edu Castello - Casa e Jardim
- Inicia-se a fixação da primeira fileira de peças;
- Colocar espaçadores entre os cobogós para uniformizar as juntas numa única largura, a largura ideal é de 1,0cm;
- A tipo de argamassa a ser utilizado vai depender do tipo de cobogó escolhido, para peças de concreto, por exemplo, cimento e areia. A utilização de argamassa inadequada prejudica a segurança e a estética do assentamento. Podem ocorrer fissuras, descolamento de peças. Veja a recomendação do fabricante.
- A quantidade da argamassa deve ser suficiente para preencher o espaço deixado pelos espaçadores e envolver todas as faces das peças;
- Após a fixação das peças, “quebrar” a rebarba dos espaçadores e, utilizando a mesma argamassa de assentamento, rejuntar os intervalos entre as peças;
- Para melhor estruturação e segurança, recomendamos que a cada duas fileiras seja colocado uma barra de ferro de ¼ “ou 5 mm no sentido horizontal entre as peças;
Foto: Elemento V
Foto: Eduardo de Almeida - Lugar Certo
- Seguir esta sequência de montagem.
É importante dizer que:
- Para alguns formatos de peças encontrados no mercado, a estruturação das mesmas deverá seguir as recomendações do fabricante;
- Não é recomendado assentar todos os módulos em uma só fase. É fundamental respeitar o tempo de secagem da argamassa utilizada (verificar normas técnicas do fabricante);
- Os cobogós instalados em áreas externas devem ser assentados de modo que as peças conduzam as águas de chuva para o exterior.
Há inúmeras razões para não esquecermos este elemento arquitetônico tão importante, não só pela sua capacidade de proporcionar beleza aos ambientes, mas também por sua veia sustentável, sua variedade de formas, cores, materiais, dimensões e custo, mas sobretudo por fazer parte da nossa história, nosso modo genuinamente brasileiro de morar.
Para saber mais a respeito do cobogó, este vídeo postado no YouTube é do programa Brasilidade apresentado na TV Câmara:
História do Cobogó – Arquitetura Brasileira (TV Câmara)
Duração: 7:06 minutos
E também ler o livro:
Cobogó de Pernambuco
Josivan Rodrigues, Cristiano Borba e Antenor Vieira
Editora Josivan Rodrigues – 2013
120 páginas
Idiomas em português e inglês
A edição deste livro está esgotada, para maiores informações sobre a publicação da 2ª edição você deve se cadastrar. Clique aqui
Elyzia, teus posts são sempre maravilhosos, completos, de simples entendimento e com muita informação. Parabéns!!
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